Se o paraense quiser saber melhores notícias sobre o Estado vai ter que pesquisar em jornais antigos. Já faz algum tempo que amargamos os últimos lugares das pesquisas nacionais sobre dignidade humana. Até no quesito favelas já estamos incluídos. E, agora, num estudo sobre “Vulnerabilidade das Famílias”, de 2003 a 2009, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, diz que o Pará teve o segundo pior resultado do País, quando se trata de avançar para reduzir mazelas como o acesso à moradia, à educação e ao conhecimento. Enfim, por aqui há mais restrições e menos oportunidade aos mais pobres.
Às vezes, fico a imaginar se todo esse quadro doloroso é mesmo real. Mas, basta conversar com qualquer cidadão, ou mesmo ao olhar as esquinas e ver os noticiários, para ter certeza de que precisamos nos afastar desta lanterna incômoda. Fatos incomuns, de raro acontecimento em outras épocas, agora são corriqueiros. No interior do Estado, até nas cidades mais pacatas, a violência já chegou de quase todas as formas. Em Belém, onde deveria haver mais condições de trabalho, educação, saúde e segurança, a população está sobressaltada. O trânsito paraense, com certeza, é um dos piores. Os engarrafamentos já atingem a marca das horas. E tudo piora na época das chuvas, quando as enchentes trazem os alagamentos e mais desolação. Pode ser que eu esteja equivocado, mas a sensação que tenho é de que, até pouco menos de duas décadas atrás, Belém era mais limpa, mais ventilada, mais tranquila, e o trânsito bem melhor. O Pará também já esteve melhor.
É difícil acreditar que estamos em um caminho que não leva ao destino que merecemos. O Pará já foi o terceiro maior Estado do País na era da borracha. Já vivemos a era do ouro. Já tivemos grandes carnavais. Aqui estão as maiores reservas minerais do planeta. Ninguém tem mais ouro que nós. Os mais belos e grandes rios passam por aqui. O maior arquipélago fluvial é nosso. As mais belas praias do mundo estão em território paraense, e aqui se condensa toda a diversidade que existe na Amazônia. Também não há povo com tanta hospitalidade quanto o nosso. O paraense é carinhoso, solidário e trabalhador. Então, não dá para aceitar tanta coisa ruim creditada pelas pesquisas. Cada vez que sai uma pesquisa sobre o Brasil lá está o Pará sempre em difícil posição.
A culpa, como sempre, é a má gestão, a incapacidade do poder público. Pode ser. Mas, eu acredito que a responsabilidade de sair desse mar perigoso é de todos. Só assim podemos deixar para trás essa incômoda condição. Devemos melhorar a nossa autoestima. Discutir e cobrar mais dos nossos governantes o respeito aos mais pobres. Sim, porque é uma falta de respeito negar ao cidadão mais pobre o direito que ele tem à educação, à saúde, à segurança e ao emprego decente. Chega de tanta notícia ruim. Para tudo há remédio e já é possível ver alguma luz no fim do túnel. Já existem setores, tanto da sociedade civil quanto do governo do Estado e de muitas prefeituras, preocupados com essa incômoda situação. A Universidade Federal do Pará é um bom exemplo disso, e já começou a promover discussões sobre demandas e prioridades do Estado. Uma louvável iniciativa para ser disseminada. Um bom começo para um Estado carente de profissionais que entendam de políticas públicas.
Jader Barbalho
*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 05 de Fevereiro de 2012.
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