segunda-feira, 30 de maio de 2011

A ÚLTIMA FRONTEIRA

O triste episódio do assassinato de dois brasileiros ambientalistas no sul do Pará colocou o nosso estado no noticiário policial de quase toda a mídia do mundo. Essa tecla insistente, essa repetição de fatos que nunca deveriam ter ocorrido, esse ciclo de lamúria que não se rompe precisam ser detonados para bem longe daqui. Chega! Não podemos mais achar que só o governo deve agir. Há muito tempo a sociedade já entende que o governo é o gerente de suas vontades.

Os segmentos que compõem a sociedade paraense precisam encontrar, ou definir os seus caminhos. Para que o Pará dê o salto de qualidade desejado, nós devemos estar concentrados numa agenda de viabilidade econômica satisfatória para todos. É preciso saber quais são os nossos gargalos, recuperar nossos grandes projetos que ficaram para trás, como o asfaltamento da Santarém-Cuiabá e da Transamazônica e tantos outros. Esse afunilamento na infraestrutura da malha rodoviária (que se equivale em tamanho à malha rodoviária federal, sem contar as estradas vicinais) é a causa de muito atraso, pois os investimentos, mesmo naquelas que estão em boas condições, são constantes e isso é muito difícil num Estado que tem um índice pluviométrico fantástico na primeira etapa do ano, mas acaba com as nossas estradas, principalmente as vicinais, onde estão os nossos agricultores. Isso torna tão caro o valor do frete que fica impossível comprar a produção agrícola de muitos municípios.

É necessário que o Pará negocie suas riquezas naturais, hídricas, florestais e minerais. Nós temos que ter um projeto florestal com nível de excelência. Precisamos conhecer lugares nos quais já estão implantados e em constante evolução programas de desenvolvimento, como é o caso da Costa Rica que implantou um modelo possível para manter a floresta em pé e lucrar com isso. Criou um modelo de economia florestal no qual estão envolvidas quase todas as áreas técnicas profissionais. É um sucesso. No projeto da hidrelétrica de Belo Monte, os técnicos corrigiram tudo o que não deu certo em Itaipu e Tucuruí. Mas precisamos unir esforços para que a cobrança do ICMS incida também na geração da energia aqui produzida (o filé da energia) e não somente na distribuição. Com isso, haveria mais recursos para o estado e para os municípios. É essa possibilidade financeira da energia que devemos perseguir para reverter o quadro caótico da saúde, educação, segurança pública, conservação de nossas estradas e tantas outras obras de infraestrutura que só serão possíveis realizar se o governo tiver recursos.

Uma pauta na qual esteja contida toda a política de desenvolvimento, geração de renda, mão de obra e de arrecadação em favor dos municípios é urgente. Nós devemos saber o que queremos e a primeira coisa a fazer é unir empresários, técnicos, estudiosos e, principalmente, a área política. Se for o caso, contratar consultoria. Quando visitei a Califórnia, nos Estados Unidos na década de 1970, havia um Instituto chamado California Tomorrow, mantido pela sociedade e que reunia grandes estudiosos para fazer levantamentos e projetos constantes. A cada novo governo o Instituto apresentava, por escrito, um projeto de desenvolvimento. Isso foi de extrema importância para o futuro da Califórnia, que hoje é o mais rico estado americano.

O Pará como última fronteira mineral, agrícola e florestal do País se transformou num convite permanente à migração e isso tem sido um agravante dos seus problemas de meio ambiente. Entretanto, já acumulamos experiência suficiente para não ficar mais nessa discussão binária que não leva a nada, entre devastadores e ambientalistas.

O Pará precisa trocar de lugar no noticiário. Sair do policial e entrar no econômico. Chega de lamentar. Os problemas nós já conhecemos. Precisamos de alternativas científicas e futuristas que garantam o equilíbrio do ecossistema e o bem-estar da população.



JADER BARBALHO

*Texto originalmente publicado no jornal Diário do Pará no dia 29 de Maio de 2011.

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