segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O VALOR DA ESCOLA PÚBLICA


Competitividade é a palavra-chave no mundo globalizado. O Brasil, se quiser estar entre os melhores no mercado internacional e se firmar como um confiável e promissor parceiro comercial, terá que preparar seus cidadãos – principalmente os jovens – para as permanentes olimpíadas que exigem conhecimento em todas as áreas. Para isso, é imperioso que os investimentos na educação sejam levados mais a sério, principalmente quando se fala em educação pública, para a qual o destino das verbas é escasso e vago. O Ministério da Educação deve ter mais rigor na fiscalização da qualidade do ensino praticado hoje nas universidades que estão espalhadas em toda esquina. Trata-se a educação como mercadoria que pode ser adquirida em módicas e eternas prestações.

Não faz muito tempo, quase duas décadas, que as escolas públicas eram muito melhores. Do ensino básico ao universitário. Meus filhos estudaram em escola pública, e eu mesmo me gabo de ter frequentado o velho Colégio Estadual Paes de Carvalho, que já foi uma das maiores instituições do País. Então, o que aconteceu com a educação brasileira? Quando as escolas públicas deixaram de ser um ambiente pacífico, um polo de civismo e conhecimento, e se tornaram sucatas onde imperam a violência e a ignorância? São perguntas difíceis, porque nas respostas está o mais árduo trabalho de qualquer governo: largar tudo e investir na educação pública, que começa com salários melhores para professores, escolas profissionalizantes, recuperação das salas de aulas, criação de espaços propícios para a criatividade, educação continuada para os professores, combate à evasão e à repetência, e, talvez, o mais importante: investir na inteligência brasileira.

É a inteligência que faz um pequeno chip, produzido na China, por exemplo, valer algumas toneladas de minérios de ferro extraídos aqui no Pará. O Brasil tem muitas riquezas, mas não sabe aproveitá-las. É aí que está a resposta de por que países tão pequenos da Europa, como a Suécia por exemplo,  conseguirem dar aos seus cidadãos um padrão de vida tão elevado. Nos Estados Unidos, que o mundo não vê como grande exemplo, as universidades são patrimônios públicos. Não que os estudos sejam gratuitos, mas por causa do valor social e cultural que mantêm por séculos. As instituições americanas de ensino superior são as melhores do mundo. Os formados em Harvard ou Stanford, por exemplo, têm passaporte garantido na elite intelectual que vai promover a evolução no mundo em todas as áreas. Aqui no Brasil, o governo se contenta com uma média 4 no índice oficial de desenvolvimento na educação básica.  E aí estão incluídas as escolas públicas e particulares. Sem falar nos 14 milhões de analfabetos que, decididamente, não têm qualquer possibilidade de inclusão social.

No Pará, é melhor relembrar os tempos de glória do Colégio Paes de Carvalho, da Escola Rego Barros, do Instituto de Educação do Pará, a Escolinha da Universidade Federal do Pará e as filas que se formavam em frente à Escola Ulysses Guimarães. Entre as 50 melhores escolas do País não há nenhuma da região Norte. Tanto faz. O Brasil é um desperdício de talento, de educação. A escola insiste em repetir velhos métodos que não servem mais para os dias atuais. Existem muitos casos, dentro das escolas, nos quais o professor tem menos conhecimento que seus jovens alunos, por causa do mundo globalizado e informatizado. As universidades não estão engajadas em preparar melhor seus profissionais que, por outro lado, são os responsáveis por melhorar o ensino básico e fundamental. Vivemos em um círculo vicioso quebrado, aqui e ali, por professores persistentes que não desistem de seus sonhos apesar de toda a carência, da pobreza que está em toda parte do setor.  O melhor exemplo disso vem do Piauí, precisamente do município de Cocal dos Alves, que tem 5,6 mil de habitantes, cuja fonte principal de renda é a plantação de caju, mas de onde as escolas públicas têm revelado fenômenos que colecionam medalhas nos concursos educacionais. E tudo começou com o professor de matemática Antônio Cardoso do Amaral que convenceu seus alunos a enfrentar desafios.

É como disse Ruy Barbosa: As palavras convencem, mas são os exemplos que arrastam.


JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no jornal Diário do Pará no dia 31 de Julho de 2011.

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